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A corrupção é o típico crime do colarinho branco, embora, como se tem visto, ela ocorre também dentre a população de menor renda, como mostram as recentes burlas para receber o auxílio emergencial decorrente da pandemia.
O crime de corrupção produz efeitos diretos e indiretos na sociedade. Efeito direto é o desvio de recursos destinados ao bem-estar da população e degeneração do serviço público. Os efeitos indiretos, por sua vez, são mais deletérios, na medida em que "normaliza" o comportamento corrupto, como se este não fosse algo pernicioso e criminoso. O exemplo dos criminosos de colarinho branco, com suas ostentações de riqueza e de escapes diante da lei, termina por criar implicitamente um sinal verde à corrupção.
Aparentemente, os crimes de colarinho branco não são violentos. Ledo engano. Podem não ser praticados com violência direta contra alguém, mas têm efeitos violentos sobre a sociedade. Vejamos os casos recentes de desvio de dinheiro para a compra de respiradores. Quantas pessoas sofreram e morreram por falta dos recursos que foram desviados? Isso é violência coletiva.
Existe uma outra classe, que não se encaixa no perfil dos criminosos de colarinho branco. Refiro-me aos chefões do tráfico de drogas, armas, milícias, que lidam e comandam diretamente organizações criminosas e com os recursos auferidos da delinquência vivem nababescamente numa sociedade marginal, onde são admirados, temidos e invejados. Alguns deles ascendem socialmente e, pasmem, terminam sendo admitidos, pelo dinheiro que têm, em altas rodas sociais, podendo adquirir o status de "colarinho branco".
Estes criminosos infestam o país. Enquanto a sociedade está preocupada com o dependente de drogas, que também trafica na esquina, toneladas de droga estão circulando impunes pelo país, enriquecendo os barões do tráfico. Estes barões do crime costumam fazer coro ao discurso antidrogas para que se prendam os infelizes traficantes de esquina, que não têm onde cair mortos, enquanto o mercado, no atacado, não sofre qualquer abalo.
Quem era o real responsável pelos 32 quilogramas de cocaína apreendida nas mãos de um sargento da aeronáutica, quando acompanhava comitiva presidencial? A quem pertencia a meia tonelada de cocaína apreendida no helicóptero de um ex-senador? São só duas perguntas, porque o espaço deste artigo é limitado.
As quantidades de dinheiro vivo apreendidas em apartamentos e escritórios, de onde vieram? Para que se destinavam? As apreensões tornaram-se rotineiras, demonstrando que a prática também o é. Assim como no caso das drogas, o que é apreendido é uma parte ínfima. Sinal de que o país está sob domínio de gangues, inclusive com ramificações dentro da estrutura do Estado.
A criminalidade é endêmica. É preciso deixar de olhar só para baixo e lançar um olhar para o alto da pirâmide social.